sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Pegadas quase apagadas




Pegadas me fazem rumar para um destino desconhecido, que mesmo sem provar, deduzo o sabor: amargo, insosso, que me farão ter belas recordações do maravilhoso mundo que pretendia construir.
As mesmas pegadas que insistem para que eu as siga, já foram insistentemente mais fortes um dia com meus antepassados, mas com o tempo e minha persistência foram se apagando.
Minha pessoa finge, mente, faz promessas falsas de que irá segui-las, até mesmo existe um outro eu dentro de mim que se conforma em fazer as mesmas pegadas... mas minha real personalidade não o deixa se mover, não o deixa dar sequer um passo.
Confusas as pegadas fingem não saber o que pretendo, e minha pessoa finge não saber que as pegadas sabem que quero deixar minhas próprias pegadas em um solo que admiro e contemplo antes mesmo de descobrir que podia andar sozinho.

Douglas Tedesco – 01/2004

Nostalgia Exacerbada
























Atenção: Eu vi este texto salvo num computador público, gostei muito, publico então, mas não é de minha autoria e nem sei de quem é...



Era sempre assim. Passava o noticiário da tarde e o vô do Pedrinho xingava o mundo.
- Ah, no meu tempo não tinha isso.
Mais tiros, mais sangue e o homem repetia:
- Essa juventude de hoje tá perdida.
Pedrinho ficava entre a sala e a cozinha, brincando com os carrinhos, e só escutava os reclames e a barulheira. O programa era muito violento, o pai não deixava ver. Ele não entendia o porquê de tanto protesto.
No jantar, perguntou ao vô se é verdade que o passado foi tão bom.
- Ô, se era. A gente deixava janela aberta e não entrava ladrão. A criançada brincava na rua e ninguém tinha medo. Hoje vocês só sabem ficar em casa, jogando videogame.
Pedrinho ficou bravo. Por que videogame era tão ruim? Mas preferiu ficar calado. Não iria responder ao avô, ainda que soubesse uma boa resposta.
- Olha, você ainda é pequeno para eu te contar isso, mas na minha época quando um menino namorava uma menina ele demorava uma semana para pegar na mão dela. Hoje essa juventude vai pra cama na primeira chance que têm. É um absurdo.
- Liga não, filho – disse o pai de Pedrinho numa rara intervenção – quando a gente fica mais velho acha que tudo era melhor no passado.
E olhou pro pai com ar de reprovação:
- Você se esquece que na sua época mulher só ficava no fogão. E na escola então, criança apanhava de vara de marmelo.
- Ah, eu apanhava de vara de marmelo e tô aqui. Criança malandra tem de apanhar mesmo. E olha, é por causa dessas mulheres que saem de casa que as crianças andam tão mal educadas. Na sua idade, você era muito mais educado que o Pedrinho.
Pedrinho ficou bravo pela segunda vez no dia. Por ele e pela mãe. Quase respondeu ao avô. Mas preferiu subir pro quarto. O pai o seguiu.
- Olha só, Pedro. Seu vô não tá acostumado com essa modernidade, com essas coisas. Tem muita coisa errada por aí, mas também não é assim. Não precisa ficar bravo.
- Ô pai, mas você acha que antigamente era melhor?Sei lá, filho. Sou muito novo para saber. Só digo pra ti que quando se elogia a própria época xingando a dos outros, isso não é nostalgia. É doença.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

A PIOR FORMA DO MAL





Que façam, que façamos, coletas e coletâneas, seletas e seleções. Agarra-me, puxa-me, cuida de mim. Não deixes que eu me vá, que o destino me embale em suas propostas. Que eu me perca, não deixe.

Tampai meus olhos para que a acusação não decapite. Fechai minha bica por luz e fio de encanto, de que farda guerra os guia. Curai minha audição com modos de filha inacabada, selvageria górgona de tirania atual.

Névoa densa, condensa em traças do reino. Vigia-me em vigílio, para que nada vos agradeça. Somente e sempre peça. Ata-me as mãos a forma de que o ar se esbalde. Fortifica, crucifica meu corpo nas pedras. Como se algo fosse palpitações em veia contínua.

Não deixais que eu mova as pessoas. Confiai em teus inimigos, entregai a tais segredos, porém não me deixe solamente almofadas ao solo. Perigo correm teus seguidores á proximidade de meu ser. Comsuma-me e devolução pois foi. Reverso de veneno, resultado semelhante.

Olhai descaradamente as peles, armaduras. Nunca olhai a mim. Eu não mereço. Ponha o diálogo na porta, porque vou regar o jardim, seco e avante em misérias. Chego a molhar e as construções roubam minha atenção. De azul a fosco, folhas e parreirais iguais.

Diz um monte de vítimas que eu não estava lá, eu estava lá. Também estava lá. Nos treze trabalhos de Hércules, nas oito maravilhas, franco de tripulações. Falei com eles. Os quinze profetas, os cinco reis magos. Inventei ausente de consciência e desejo construindo onze mandamentos.


Á fraque, rasgadeira. Onde eu estou? Em qual história não me puseram? Ego fatal de megalópoles. Entranhas pequenas, problemas, mal tudo vale a pena. Ouso, repito e falo outra vez a mais real verdade: a verdade dói!

Empolgastes á toa, já disse que não te mereço. Persuadir propositalmente, merecidos de sexo. Introduções de um parabéns desanimado, sem animação-fração. Fervo em perigos universais. Me apresento neste fim sem máscara como a pior forma do mal: a demasiada bondade.

Ocupado...



- Pois não: No que posso ajudar?...
Ortodoxal surbodinagem. Para perante, até causas ossais. Responde sacrifica. Solta réus conjuntos verbais e faz a alegria retornar ao meu momento de existir.

Alguém depende de algo. Uma resposta? Canal sólido de informações, preste atenção:- Acalme-se e fale. O que são esses gritos? Por favor não entre em pânico...
Normalmente o que é ser normal?

- Eu sinto muito senhora, mas não estou lhe entendendo. Não tenha tanta pressa, eu vou lhe ajudar...
Um, dois, dedos. Até quando? Por quanto tempo a dor?
Então que andem se temos de sofrer.

Nada faço na fome de morte, reprodução perfeita das contradições a distância.
- Sim senhora, ainda estou aqui. Não vou lhe deixar, não se preocupe, fale-me dos gritos.

Interferências disconformes, príncipes, princesas recebidas de esquadras.
- Não! Por favor não desligue!
O que foi isso? Porque os gritos pararam? Senhora? Na?... Como você entrou aqui? O que é isso? Não...!


Agite antes de Beber







Chove às vezes num dia de sol.
As pessoas só morrem quando estão vivas.
Contém glúten, não contém glúten.
Parado porque não está em movimento.
Andando porque não está parado.
Conforme solicitado.
Esponja de ã de aço.
Perdendo dentes.
Morreu na guilhotina, ando meio desligado.
Modo de fazer, restrições, precauções.
Cuidado, veneno.
Extra, extra, extra.
Casamento da nova melhor atriz do ano.
Nome em inglês... Complicado.
“How are you? Nice to me too.”
Sem mais, firmo-me.
Aguardando retorno.
Parando porque não em movimento.
Andando porque não parado.
Central de informações.
Nunca pensei, não penso.
Em breve. Novas instalações.
Inaugura Hoje!

Pra viver mais. Pra ser mais.
Contém glúten, não contém glúten.
Efeito dominó, efeito borboleta, efeito reverso.
O amor ainda estava lá.
Defeito!
Faz tão frio aqui.
Pula esta música.
Aluguei aquele filme que a gente queria.
O enterro é amanhã.
Não adianta fazer planos.
Uhhhh, Ahhhhhhhhhhhh.
Cumprimentado-o cordialmente.
Janela quebrada na casa nova.
Ser ou não ser... Isso não é questão.
Embalagem de 500g.
Novidade no mercado.
Média. Café com leite. Pão com manteiga.
Club Social, ervas finas, patê de fígado.
Beba um gole
.
Beba quatorze goles e meio.
Roll on, diversas fragrâncias.
Corsário, meia canela, micro saia.
Luís XV, agulha, plataforma.
De oncinha, rendado, liso sem estampas.
Vestido, camiseta, gala pura.
Yang, Seisho-no-ie, Mata Hari.
Nobre, pobre, quatorze goles e meio.
Bj, ; ) , hauhauhauhau, kkk, rsrsrs.
Boby Blues, Versace, falsificados.
Arquitetônicos, templos, degraus sublimes.
Zeus, Hera, Hércules.
Muzzarela, Quatro queijos, gorgonzola.
Catupiry, Rockfort, Camembert.
Brigadeiro, cajuzinho, beijinho.
Minhas condolências, meus pêsames, meus sentimentos.
Muzzarela, Quatro queijos, gorgonzola.
Catupiry, Rockfort, Camembert.
Portuguesa, Margherita, Á moda da casa.
Coxão mole, Patinho, Picanha.
Couro, Napa, Lona, Tecido, Crepe.
Jasmins, Begônias, Tulipas, Rosas, Gerânios,
Cravos, Lírios, Antúrios, Amores-perfeitos.

Meia-noite, duas da tarde, quinze para as três.
Ainda, aham, talvez, não sei.
Porque, como , quando, quem, onde, o que?
Telepronter, Pirâmide invertida, leade, release,
Lay-out, pauta, resumo, resenha, Stand By.
Bye, bye!
Vengaboys, Lasgo, Scorpions, Bee gees.
Contém glúten, não contém glúten.
Agite antes de usar, mas não se usa, se bebe, então agite antes de beber, mas olhe bem o rótulo, pois pode conter glúten, pode não conter glúten.






quarta-feira, 26 de setembro de 2007

A Valsa de Casimiro

Á poderosa Talita Rodrigues qe ovulou neste poema... Para ela com todo carinho!


Tu, ontem,Na dançaQue cansa,VoavasCo'as facesEm rosasFormosasDe vivo,LascivoCarmim.Na valsaTão falsa,CorriasFugias,Ardente,Contente,TranqüilaSerena,Sem penaDe mim!
Quem deraQue sintasAs doresDe amoresQue loucoSenti!Quem deraQue sintas!...- Não negues,Não mintas...- Eu vi!...
Valsavas:- Teus belosCabelos,Já soltos,Revoltos,Saltavam,Voavam,BrincavamNo coloQue é meu;E os olhosEscuros
Tão purosPerjurosVolvias,Tremias,SorriasPra outroNão eu!
Quem deraQue sintasAs doresDe amoresQue louco senti!Quem deraQue sintas!...- Não negues,não mintas...- Eu vi!...
Meu DeusEras bela,Donzela,Valsando,Sorrindo,Fugindo,Qual silfoRisonhoQue em sonhoNos vem!Mas esseSorrisoTão lisoQue tinhasNos lábiosDe rosa,Formosa,Tu davas,MandavasA quem?!
Quem deraQue sintasAs doresDe amoresQue loucoSenti!Quem deraQue sintas!...- Não negues,Não mintas...- Eu vi!...
Calado,Sozinho,Mesquinho,Em zelosArdendo,Eu vi-teCorrendoTão falsaNa valsaVeloz!Eu tristeVi tudo!Mas mudoNão tiveNas galasDas salas,Nem falas,Nem cantos,Nem prantosNem voz!
Quem deraQue sintasAs doresDe amoresQue loucoSenti!Quem deraQue sintas!...- Não neguesnão mintas...- Eu vi!...
Na valsaCansaste;FicasteProstrada,Turbada!Pensavas,Cismavas,E estavasTão pálidaEntão,Qual pálidaRosaMimosa,No valeDo ventoCruentoBatida,CaídaSem vidaNo chão!
OQuem deraQue sintasAs doresDe amoresQue loucoSenti!Quem deraQue sintas!...- Não negues,não mintas...- Eu vi!...
Casimiro de Abreu

Saindo, entrando, saindo entrando... Na rotina.



Crônica sobre um complexo dia em que a trma do teatro foi assistir um filme lá em casa...




...60 segundos, 60 minutos, 24 horas, 7 dias, 30 dias, 12 meses... Com o tempo infelizmente e graças a Deus não existe esse negócio de sair da rotina. É sempre assim , depende de nós para excluir um pouco os hábitos de nossa vida, ou constituir uma boa rotina, sólida e prazerosa... Tentamos, conseguimos! Não diria um fim de semana perfeito, mas também não obteve qualquer defeito. Começou como qualquer fim de semana numa sexta-feira, papai e mamãe ao meio-dia decidiram viajar as 2 da tarde... Então ta né! Vocês que sabem, ô gente louca!!! Eu tenho a quem puxar! Daí o sábado como costume veio logo depois de sexta, mas era “O SÁBADO”, mais um sábado... Fiz sorvete, sopinha, a solidão desgraçando tudo por dentro, contando as horas pra ver o povo todo ir lá em casa. Lá pelas 4 da tarde indo ao mercado comprar refrigerante, uma figura de bicicleta, óculos de sol, bermuda e camiseta azul, (de cara amei a camiseta dele) foi parando e olhando pra mim, gelei confesso! Fiquei esperando me dirigir a palavra, na certa era pra pedir alguma informação, aí abriu a boca e me estendeu a mão... Era o João! Putz, minha Nossa Senhora das pessoas ruins de vista, acolhei-me, pois juro que não reconheci á primeira, segunda, nem terceira vista, só lá péla quarta ou quinta é que me dei conta, e pela voz, inigualável. Então passado o “susto” ele me deu uma “informação” da entrada de um novo membro ao cinepipoca, e da escolha do filme, ao qual já tinha idéia devido aos recados na net. Em seguida, comprei o refrigerante e fui também alugar um filme. Chegando lá, confirmei se alguém havia retirado o filme “Poseidôn” título que até agora to pra saber qual é a pronuncia certa, pois nem o elenco sabia, uma hora era isso outra aquilo. Peguei outro filme, logicamente, paguei e fui embora... a sorte foi eu ter perguntado, pois se não o tiozinho da locadora tinha colocado meu filme na conta dele,ô organização medonha!
dezenove horas e trinta minutos, o tempo promete mais chuva, aquela chuvinha chata que você jura que vai durar até segunda-feira, A mana e o sapo chegaram lá em casa, ela toda disposta e ao mesmo tempo fazendo aquele drama do brigadeiro: “Ó , ser ou não ser... O que é mais digestivo para a alma?” mas fez, afinal estava praticamente assinando o próprio atestado de óbito caso não fizesse, foram singelas quatro latinhas... eu abri duas, tenho prática e uma mão boa pra essas coisas, o sapo foi abrir uma... (!) Meu Deus do céu!
Ó Nossa senhora dos dons e práticas domésticas, socorrei-o! Se bem que não foi preciso, pois ele conseguiu, também deixando sérias seqüelas na latinha, não tenho forças nem condições psicológicas para descrever o que foi aquilo: “ è um rombo, um amassado, não , é a latinha aberta pelo Adriano” . que merecia ser toda aberta , e colocada numa moldura como prova deste ato de crueldade e tirania suprema. Por isso que decidi esconder todas as latas lá de casa, porque logo que aconteceu a fofoca rolou, e estão todas desesperadas, implorando para serem abertas por qualquer outro ser humano, menos o Adriano. Mas então o brigadeiro feito, um terço de todo chocolate em pó do planeta terra dentro daquela panela. Alguém que eu não esperava que fosse, chegou, a Helen. Toda produzida, de cabelo novo!!! Pronta pra esticar dali na Zoom. Desejamos as boas vindas ao clube da latinha... quer dizer, do cinepipoca, e em seguida o João chegou também trazendo o outro mais novo integrante do clube: A ... Sua.... É... (situação e descrição embaraçosa, deixa eu pensar)... A Michela, pronto! (UFA!) ela conferiu minha sessão de fotos, migramos á cozinha, o centro de interação do momento. Esperamos o Fernando e a Maiara, e apesar da demora, perdoamos pelo atraso, pois entendemos que dois louros na rua indo á algum lugar, não pode mesmo dar boa coisa. Todos acomodados, muito bem então senhores passageiros, apertem os cintos (e outras coisas mais pra segurar) porque mais uma sessão do cinepipoca vai começar , aliás, nem sei porque cinepipoca, porque o que menos tem é pipoca!Na primeira hora de filme não deu pra escutar muito bem, porque dava interferência com a conversa paralela alheia, no entanto não era problema, pois foi apenas na primeira hora de sessão, e o filme devia ter umas quatro, e era horrível! Nossa senhora dos péssimos longa-metragens! Socorrei-me! Efeitos, quer dizer, defeitos pra lá de especiais, enrolavam naquilo que a gente já estava cansado de saber que ia acontecer, sem falar na ameaça de propaganda que dava sempre, o filme perfeito pra globo, não precisa nem cortar, promete substituir A lagoa azul como campeão de apurrinhamento em breve! O Fernando s segurando pra não soltar algumas coisas, a conexão minha e da mana tava ótima! Algumas partezinhas do filme muito comuns em nosso cotidiano, e eu pasmo, bobo, bobo, porque alguém ali sabia de coisas que jamais fosse imaginar que contariam. E depois do filme, a mana foi embora, o sapo também, O João e a Michela também... De mãos dadas gente, só eu que fiquei vendo do portão vi a cena linda que foi... (suspiro) E olha que nem sou romântico hein!!!
Depois fomos eu a Maia, o Fernando e a Rainha do funk pra zoom, as divas da voz cantando em inglês um pedação do caminho, eu igual um velho reclamando sempre, (acho que to me apegando demais aos personagens) ganhamos descontasso de um gaúcho muito gente boa conhecido da Maia. Depois entramos, ambiente lotado, e aquele “puth Puth” sem pé nem cabeça horrível, bate estaca medonho, encontramos vários conhecidos, beija pra lá, beija pra cá. “ e como eh que tu tah e coisa e tale, e tale e coisa”
Encontrei até uma grande amiga, irmã de Itajaí, meio famosa por aqui já! Mas pena não podermos conversar muito. Depois de um tempo a Maia cansou e sentou num banquinho, tudo bem se não tivesse quebrado a perna do banquinho, aff... Disfarça e vamos dar uma volta! Maldita volta, pois não sei por onde passei que uma coisa gosmenta grudou no meu cu...
...tuvelo. E o único papel que achei pra me limpar foi um cartão mais ou menos 3x3 sabe, de cartolina pra tirar o excesso!
ARGH! E falando em papel, a maior viagem da noite foi achar que aqueles pisinhos vermelhos no chão da boate era panfletos... Quase que eu perguntei pra Helen se realmente eram panfletos. E tava até pensando em juntar um do chão pra ler o que era. Música nada animada, dor de cotovelo horrível. Fomos embora!
As 3 e meia da matina peguei no sono, nem desarrumei nada, porque afinal de contas, combinamos uma outra sessão para as 18 horas do dia.
O sapo chegou primeiro, louco com a mana, nem sei porque, depois a Helen, a mana,o Fernando e a Maia. Surge então a cruel dúvida, dar uma de hippie e fazer rodinha de violão, ou realmente assistir o filme, por força das circunstâncias e falta de comunicação com os vizinhos ficamos na segunda opção. Afinal nosso violão estava com crise de personalidade: achando que era cavaquinho, pois contava somente com quatro cordas.
Na sessão extra do cinepipoca, correu tudo bem, normal, ou quer dizer, anormal, pois o normal é coisas incríveis acontecerem, e nada de estranho ocorreu. “ABU – UAU!”
Eu e a Maiara pegamos essa, e o filme era bom sim, o vovozão pegador... Quero chegar na idade dele, com a mesma disposição e virilidade! Depois como brinde do cinepipoca, pelos clientes inigualáveis e especiais que ele possui, ganhamos o direito de assistir Divas no Divã! E graças á Nossa senhora dos DVD’s arranhados, o disco não deu pane. Socorreu-me!
“Colocou o chicletinho de novo né miserável?”
De repente, de praxe, chega meu irmão, e a namorada,, ela vomitando, e ele com uma chave banheiro de um posto de gasolina de Florianópolis, o mais estiloso era o chaveiro: um cano de PVC, bem discreto (cof cof), ignorância tremenda, pra todo mundo saber que tens em mãos uma chave de banheiro!!!
Depois acabou, cada um seguiu pra o seu canto, e fomos eu e Fernando levar a Maia até em casa, conversamos mais um monte, depois cada um seguiu seu lado, cheio de planos e afazeres ao círculo... Eis então que hoje de manhã antes na hora de colocar o lixo quem eu vejo no lixeiro: A latinha de leite condensado massacrada, e o caninho de PVC-chaveiro.
(risos) coloquei o lixo, e pensei no ótimo destino que eles teriam, sendo peças tão bizarras, verdadeiras obras de arte!

terça-feira, 25 de setembro de 2007

O ( F ) imperfeito



Era uma vez, um mundo dotado de defeitos perfeitos, povoado e governado por uma raça chamada “ser humano”. Esta raça apreciava as mais diversas coisas, prazeres estes que foram se abrangendo a todos os povos, se adaptando ou perdendo vigores, mas que resistiram ao tempo, ganharam os valores desta raça, evoluindo com ela, nos fazendo chegar ao ponto crucial de nossa histórias, nossas histórias, nossas vidas, que lutam pela sobrevivência de outras existências.
Uma funcionária pública, um professor, dois estudantes, dois universitários, um administrador de empresas. Sete vidas, sete casos e personalidades unidas por um convite, por uma tradição... Cidade pequena, estado qualquer: a encenação da vida e morte do maior homem de todos os tempos, é sagrada rotina em toda sexta-feira santa. No ano de 2006 um novo grupo se compromete a realizá-la. Alguns já habituados ao espetáculo, participando assiduamente, outros tendo sua primeira vez em palco, outros tendo sua primeira vez na participação da tradicional peça. Reúnem-se quase todos numa mesma noite com o diretor Carlos Marroco para discutir o assunto. Alguns odiavam os outros e nem sabiam o porque, outros estavam ali e nem sabiam o porque, mas ali estavam para realizar o começo de um grande passo. Ensaios correndo, com eles o ódio se esvaindo e a amizade e carinho ganhando espaço, fazendo mais tarde vício, dependência. A apresentação apesar dos pesares saiu-se bem, talvez não o esperado, nem ensaiado, mas de certa forma: perfeita!
Acabou por aqui? Não nos reuniremos de novo? Por que não fazer outros trabalhos juntos?
As interrogações foram passageiras, a confirmação, o sim chegou poucos dias após. A saudade fustigando a alma, e os planos de reviver a tragédia de Romeu e Julieta nos aliviavam da distância.
Quatorze de maio, dia e nove dias depois da Paixão de Cristo, estavam lá alguns dispostos ao próximo desafio, alguns ficaram para trás, outros de puseram para trás. Mas ali estava o começo de uma Cia, a dependência, a conexão das companhias, uma alma partindo daquelas. O reencontro, as novidades: mais uma estudante e um farmacêutico. Abraços, cumprimentos e palavras mais que necessárias, um sorriso sincero válido por todas estas palavras... O outro começo. Alguns se foram, tiveram de nos deixar durante o caminho, era a prova de fogo, o comprovante de comprometimento, amor e garra!
Mais mudanças, mais aliados, mais idéias... A data marcada: “um dezoitão de agosto”. Músicas, lágrimas, marcações, monólogos intermináveis, parabéns, sensações, figurinos – É amanhã! E foi, sim, perfeito!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Pizzaria, um idoso sem ganhar desconto, comemorações, promessas de um final feliz, ou melhor, promessas do final nunca chegar!
Ameaças deste próximo final... Mas somente e contente ameaça, ao dia das crianças mais uma apresentação, outra comemoração!
E as amizades iam crescendo, conjugando quase família: irmãos, pai, anjo, primos, filhos!
A dependência dos demais crescendo sempre, fazendo-se primórdio entre os sentimentos, e a vergonha já não existia, o falso pudor, a monotonia. Um ia conhecendo e sabendo mais um do outro, pegando o jeito, adaptando-se ao jogo de cintura de cada um. Aos ataques de riso, as piadas sem graça, a serenidade e calma, ás imitações, aos “Ô TIO!!!” aos
“transmimentos de pensação”, as variadas idades físicas, mas na realidade uma única mental. Coisas e detalhes que talvez tenham trago arrependimento, talvez grandeza, mas com toda certeza que daquele momento em diante se tornavam eternas, inesquecíveis, e como separar? De repente ter que dar Adeus aquilo tudo, ter de esquecer e nunca mais viver... Impossível! Eram pessoas, eram verdadeiros amigos, não havia como cada um seguir um lado e fingir que nada existiu, não deveria ser assim, mas assim aconteceu. O pior momento de todos os ruins, a conversa mais curta, mais rápida embora gritassem todos para que acabasse logo, ou convertesse ao antônimo. Mas a esperança falhou, era os últimos olhares, as últimas vozes a falar verdade e besteiras, os últimos ataques de riso, os últimos cortes de ânimo, as últimas graças e palhaçadas, os últimos pontos de serenidade, as últimas loucuras, a força aos poucos indo embora, uma tristeza inacreditável invadindo a mente, o coração, mas ar um clima de que tudo retornaria, de mentira, de pesadelo. As idades físicas gritaram mais alto, cumprimentos (como da primeira vez, como no reencontro), abraços (o calor dos braços aumentava o desespero) E como seria dali pra frente? Não importava, o presente era a questão principal: Cada um deu as costas como deveria (sem combinações, sem outra vez), e seguiram seu caminho, morrendo por dentro... Era o fim!
Os próximos dias seguiram-se despreocupadamente, pois era preciso sempre ocupar a mente... Uma semana, duas, três: Bem vindos á loucura, á solidão, ao lugar onde os que sofrem pela ausência se encontram. Mas o tempo daria jeito em tudo. Mais semanas passaram-se, foram a lugares, viram-se de longe, mas estavam na errada companhia, então aproximar-se era impossível. Durante a rotina do dia-a-dia viram-se também, mas não foram correspondidos, foi de longe e muito rápido... Mais semanas, agora meses, continuavam se vendo, na mente sempre as apresentações, os risos, mas era melhor esquecer pra não doer... Mais meses... Anos! Um oi de costume, sempre vez por outra quando se encontravam, apenas oi, não havia no que conversar, e mesmo assim um oi frio, sem graça, diferente do passado. Oi por obrigação e educação. As vezes ficavam abismados, tristes: - Nossa, como fulano está bem, como ciclano cresceu. E a exclamação não é pelo ato, mas por não ter acompanhado o fato.
Mais anos passam-se, esquecem dos amigos, mas vez por outra uma louca vontade de reencontrá-los, falta coragem... O pudor e a vergonha voltaram... “Como será que está o resto da turma”. Para não ter de pensar nestas coisas, chegam a se desviar na rua, a trocar a calçada, fazer de conta que não existem.
Mas o pensamento é forte, a saudade é forte, sempre que passam pelo colégio onde ensaiavam a lembrança vem a tona, sempre que assistem a uma peça a lembrança também retorna, tudo, o mínimo que havia presente no grupo, vem a tona... Com eles tristeza, saudade!
Alguns continuaram na “vida de artista”, encenando, interpretando em busca de matar a sede, mas o grupo não era o mesmo, não adiantava procurar onde havia nada... Mais anos passam-se, chega a idade adulta, a velhice. Por comentários sabem que um casou, outro teve filhos... E tudo podia ser na companhia dos amigos do passado, poderíamos acompanhar tudo, mas não deu! Fazer o que?! Tudo se fica sabendo por comentário... Que um deles está o hospital, mal de saúde... A vontade de visitá-lo é imensa, mas faz tanto tempo, o pudor e a vergonha ainda existem, e será que lembra de mim?
Outro vai embora da cidade, outro cresce na carreira, ficam tristes, felizes, pela vitória, ou derrota um do outro. E tudo é por comentários, o mundo, a alma insiste em por em seus ouvidos noticias e lembranças de algo que parece ser ontem... Aí sem querer se vê as fotos da juventude, das peças, os figurinos, das expressões, do público sempre fiel, da rotina fiel... os rostos, as fazes eternizadas como se realmente fosse durar para sempre. Aquele sorriso olhando incessantemente, pedindo algo, dizendo mil coisas, seus braços entrelaçados nas costas de alguém... Pra sempre!!! Mas só na fotografia! Provando que as promessas nem eram tão válidas. Mais anos passam... Alguns morreram, se vai ao velório prestar o último Adeus, o verdadeiro Adeus, o rosto já tão diferente, mas a cabeça e o sentimento o mesmo. Mas não adianta mais... É o fim, não somente ao que morreu, a todos!
Os parentes lembram-se daquela pessoa que chegou tão triste, por cochichos a identificam. Toda vez que vai ao cemitério visita o túmulo, lê com desgosto o nome em alto relevo prata sobre o mármore escuro, vê a foto triste, bem diferente das que se possui, dos espetáculos, sorrindo, prometendo viver pra sempre! Conversa com a pessoa, chora. A morte do outro levou o pudor e a vergonha, mas é tarde, nada pode remediar o feito do destino.
As décadas continuam passando, e se encarregam de fazer o bem, o mal, colocar seus detalhes na vida de cada um... Na morte de cada um. Sem últimos desejos, sem mágoa e rancor, só tristeza, boas lembranças e saudade...
Aconteceu tudo isto em uma cidade pequena de um estado qualquer, mas poderia ser com conhecidos seus, com você! Basta lutarmos para que não seja assim.



Diarréia em Verona

















Crônica sobre a estréia de uma montagem de Romeu e Julieta, realizada por um grupo teatral do interior de SC.





















Poderia ser qualquer data, mas para tragédia e sucesso não há dia marcado. Poderia ser qualquer horário, mas para imprevistos e boas surpresas o tempo estaciona ou corre sem destino... E por falar em destino o nosso para aquela estréia de Romeu e Julieta estava muito bem escrito: com fonte verdana, em Caps Lock, negrito, sublinhado, e itálico, tamanho vinte, e ainda destacado de marca texto fluorescente!... Era pra ser, não tinha erro, o que tivesse de acontecer, aconteceria. O que era pra ser seria, e foi!
Todo dia começa igual, mas aquele com certeza foi diferente pra todo mundo, meu relógio de pulso e meus olhos pareciam que tinham imãs, pois não queriam se desgrudar. Logo pela manhã, o nervosismo, a ansiedade, friozinho na barriga, suspense, e não aquele suspense gostoso que te deixa distraído, ligadão, mas aquele tão forte que chega a ser chato! Mas apesar dos sentidos contra, só caí na realidade às 3 da tarde daquele dia... Um dezoitão de agosto. O sol cuspindo fogo lá fora, depois de tanta água desabar. Eu sozinho em casa ouvindo música e escrevendo uma peça de teatro, foi então que ouvi aquela buzina, aconteceu aquele transmimento de pensação: Tá na hora!!!
Fiquei em dúvida se era mesmo a combi da Grasi, ou aquele carro que troca uma bola de plástico por uma panela de pressão, porque tava tão colorida!!! Cheio de vestido pendurado no vidro, oh loucura! E pensando bem, antes tivesse ficado rosa chock e verde limão até o final da viagem, do que cinza no meio da volta, não só pela fumaça, mas também pela cabeça de certas pessoas.
Saindo da minha casa, o carro, quer dizer, a combi, 2 toneladas mais pesada devido a minha mala, passou na casa da mana, onde a mãe da Renata chamou a Grasi de barbeira. Depois no João Paulo, na Morgana, daí uma paradinha no “Cruz e Sousa” pra rodar ingressinho na esquina, e farmácia do Sr. Capuletto. Entram Marroco e Rafael, este último com sua escova muito bem feita: “Imaginem como apoiou a delicada escova sobre o delicado cabelo”. Ri tanto do cabelo dele, que paguei feio minha língua horas mais tarde, nem imaginava passar pela mesma situação: “Ai de mim!”.
Todos prontos podemos ir, O Ismael, a Maia e a mãe dela no carro dele mais tarde, O Álvaro também, partiam naquele momento: eu, a Grasi, mana, João, Rafa, Morgana, Marroco, e Fernando...Ihhh, o Fernando! Graças ao João teve Mercuccio e Páris em Itajaí. No caminho nada ficou pelo caminho, exceto dois cartazes rebeldes que estavam a fim de pegar BR sozinhos: “Criaturas desobedientes!” Os cartazes que a Grasi passou tanto trabalho pra colocar na lataria do carro, quer dizer, da combi. E o que quase ficou também foi a sacada dos Capuletto, que quase quebrou o vidro de trás. E depois ainda querem que eu, um Montecchio, seja amigo daquela gente, que tem como sacada do quarto da filha uma escada! Mas tenho um bom coração, e sei perdoar as pessoas, pois fui eu quem emprestou a escada.
Daí em diante foi só a Grasi muito bem concentrada, querendo passar texto, ouvir rádio e dirigir ao mesmo tempo. As tentativas frustradas do Marroco de fazer a mana ficar um minuto sem rir... Foi impossível! “Por minha santa ordem, era muito importante que esta proesa chegasse a ser conquistada, este sucesso imprevisto traria importantes conseqüências”.

1, 2, 3 voltas pela quarteirão da Casa da Cultura Dide Brandão, e nada de estacionamento. “Sorriam os céus a este sagrado veículo para que em tempos futuros a consciência não comece a pesar”. Chegando no local da peça, antigo foco de espetáculos de Itajaí, nos deparamos com a realidade da decadência. “Pode o céu ser tão cruel? O céu não pode, embora este minúsculo palco possa”. Colocando as cortinas, o que é aquilo? Mais um refletor estragado? Uma lagartixa pendurada o teto? Não, é o Rafael colocando o trilho no corredor. Me pediram pra segurar a escada: “Eu até seguro, mas a verdade é que to me mijando todo!” A vontade era tanta que chegou a ficar trancado no banheiro. Após o resgate da pessoa, fizemos um lanchinho, e começou a sessão de maquiagem e figurino. Ali foi provado o espírito de equipe, a dedicação, a amizade, união. Cueca pra todo lado, de todas as cores: “Por São Francisco de Assis, vocês atores não tem vergonha nem com as calças na mão!” Coques e tranças nos cabelos, rugas e marcas de expressão, e ainda tocando no assunto do cabelo... (Argh, risos). Nos preparativos pra começarmos, fui de novo ao banheiro, fui de novo ficar trancado! “Tenha paciência meu filho, o mundo é vasto, este banheiro é que não é muito espaçoso! E estás sendo ingrato com a sua sorte, pois segundo as leis poderias ficar ali dentro até morrer!” ... “ E o que aconteceu, esteve sumido a noite toda?”... “Ai de mim!”
Antes de entrar em cena, pudemos dar uma espiada pelas fendas do pano preto, conferimos a multidão: platéia lotada, gente fazendo fila nos corredores pra entrar, nem o baile de máscaras daquele asqueroso do Capuletto dá tanta gente! Não fossem as famílias tijuquenses, em especial a da Morgana que “ama” ir assisti-la, nem sei o que faríamos! “Verdadeiramente por Deus, estas santas pessoas devem ser reverenciadas e agradecidas publicamente!” Desejada muita merda a todos, a caganeira começou, não caganeira porque não deu certo, mas sim no sentido do teatro, de coisas boas que aconteceram, que fomos bem e deu certo. No palco várias faculdades: senhora Capuletto, pós-graduada em soluções matrimoniais. Sr. Montecchio concluindo mestrado em cara-de-pau. Pois teve a coragem de dizer: “Quem foi o responsável por despertar essa antiga briga? Diga-me sobrinho, ela começou em sua presença?” Tá querendo enganar a quem o charlatão? O público todo viu tu lá no rolo, era o primeiro na ponta do palco! Benvólio um ótimo legista: “Está ferido?”. “Sim, não está vendo?” O cara é tão bom, que quem dá a constatação de morte é o próprio cadáver. A ama realizando muito bem a área da comunicação, excelente jornalista, sempre cobrindo todos os fatos, levando a notícia na íntegra, pena não ser muito boa cozinheira, e quase matar os bingueiros de pressão alta! Frei João se mostrou uma negação como menino de recados, Frei Lourenço precisa ter umas aulas de dança, e voltar para o seminário, pois parece que esqueceu tudo que aprendeu por lá, também tá precisando de um bom xampu pra lavar o que restou do cabelo dele! Sr. Capuletto louco pra desencalhar a filha. Páris louco pra tirar o atraso, Julieta sempre com uma peça da moda no seu guarda-roupa, sem falar na coleção de adagas, e que quando a infeliz morre ainda mexe o braço e abre o olho, até parece o Magaiver, ou o Chuck, o boneco assassino, que você extermina de todas as formas e continua vivo! Verona precisa de um especialista em coluna vertebral, pra ver se conseguem eliminar a epidemia de dor nas costas que anda por lá, é Frei, ama, feiticeira... Nunca vi tanta gente andando torto... Até o Paris com dor nas costas, mas se bem que o Páris a gente entende os motivos.
Enterro, aplausos, parabéns! Provada mais uma vez o espírito de equipe, a força da união, pois no final quando pensei em tirar a roupa do Frei pra colocar a de Montecchio, já estavam a Maia e o João agarrados em mim, praticamente cometendo estupro! Sessão de fotos, sessão de cuecas, e antes de ir embora me deu vontade de ir ao banheiro... Mas deixa quieto!
Não sei por que, mas não conseguia tirar o frei da minha cabeça. “Oh bendita noite, mais parece um pesadelo do qual não via a hora de acordar!” Eu todo cinza, cabelo, mão, unha, orelha! Yucu... Yucumã é o nome da Pizzaria que fomos comemorar, e não tinha um filho da mãe que não ficasse me olhando atravessado, “Será que é atração do restaurante? Um homem de lata, que criativo! Ao menos se idoso tivesse desconto... Voltamos ao carro, quer dizer, a combi, e a correia do Páris soltou, ah desculpa, a correria da combi! Fumaça, cheiro de queimado, O João Paulo de cara no vidro quando viu aquela nuvem subindo no lado de fora. Cena típica de filme de terror: Carro, quer dizer, combi, parado na BR, meia-noite, um monte de gente animada esperando ajuda, aquela hora deu uma saudade de ficar trancado no banheiro, bem protegidinho. “Estende teu véu noite protetora do horror, e pousa aqui pra nos salvar um disco voador”. Mas parece que um óvni já tinha passado por ali, pois pra acharem o carro, quer dizer a combi, era só procurar um alienígena na beira da estrada.
Veículo consertado continuamos, a 5 km por hora, mas continuamos! Chegamos em Tijucas vivos, só nós, a combi não. Segundo a ligação de alguém da equipe de reforço que estava na traseira dando cobertura, a correia tinha soltado de novo, mas nem deu cheiro de queimado... Também pudera, o Páris agora tava em outro carro. E o mais incrível foi a tranqüilidade do nosso diretor em receber a notícia. Chegou então o reforço do Capuletto, pra fazer o frete; a combi não dormiu em casa, quase que outras pessoas também não dormem! “Ai que dia! Quem jamais teria imaginado?” E a estréia foi assim, eu cheguei em casa, e esqueci de “coisas” , fui dormir, mas aí pintou aquela vontadezinha de ir no banheiro, aquela ainda lá de Itajaí, e que no Yucú não deu, porque esqueci. E na volta pra cama que vi o travesseiro prateado, pensei: “Que fronha mais alucinante, parece até... Puta merda! O meu cabelo!” Fui tomar banho as 3 da manhã, tirei o reboco da cara, desencarnei o homem de lata, desencarnei não, melhor: desencabelei! Tinha uns barulhos estranhos em casa, tudo muito silencioso, só os barulhos incomodando, eu morto de medo, se aparecesse alguma coisa, escorregava na espuma e entrava no ralo, quem sabe um E.T. tivesse me seguido, querendo me seqüestrar e me levar de volta pra minha terra natal.
Mas não deu nada, o dia já tinha fechado pra mim, pra nós. O dia da combi maldita, com destino á Medonholândia, primeira parte. Pode não ser um Mercedes, ou Audi, mas foi o que nos levou, e por pouco também não trouxe. A caravana dos artistas, aquela que não é coração de mãe, mas também tá sempre pronta pra o que der e vier, e sempre cabe mais um. E por falar em coração, descobri que ator não tem problema cardíaco, o coração já é tão bem treinado durante as apresentações, dias antes, minutos antes, pela ansiedade, nervosismo, que qualquer infarto é moleza! E foi ótimo: a atuação, a dedicação, descobri que de prata ali era só meu cabelo, porque todo pessoal é de ouro, é pra ficar na história, com direito a um “pra sempre, e inesquecível”.
Descobri que a Janus não tem elenco, tem constelação, porque todo mundo é estrela, e tá alto de orgulho, no céu. O único problema de ser estrela é ter que instalar uma privada nas nuvens pra poder mandar pela descarga essa diarréia!

Alguém na Multidão II


Continuação da parte I, já publicada neste blog



O trio um tanto estranho, cada um tentando expressar algo, chegou a um estúdio montado próximo ao palanque, Diana afogada pelas próprias palavras, mesmo assim, apesar do todo que a circundava, que a esperava, ela repetiu o gesto de assento dos demais e esperou o maxilar da Dra. Ágata entrar em movimento e juntamente com as cordas vocais este exprimir palavras. E como num desejo realizado, assim se fez: - Bem, garota, eu não sou de fazer isso, mas gostei de você, gostei de sua atitude, por isso gritei daquele jeito, e viemos até aqui, porque embora as inscrições estejam acontecendo, aquelas centenas de estudantes estejam esperançosos para entrar no hall da fama conosco, a escolhida é você! Nós queremos você para estagiar conosco...
(Interrupção)
-Mas por que seu jaleco está sujo de sangue?-Otto Reparara no dito desde o início do encontro, e não conseguira disfarçar por muito tempo a curiosidade, era fascinado por tudo que envolvia sangue.-Aconteceu algo?
Diana sentiu seu espírito se libertar, finalmente podia pedir ajuda, um tanto ofegante:- É isso, por isso que gritei, não quero vaga nenhuma, não quero estágio algum. Quero apenas ajuda!-Respiração, as expressões médicas foram de espanto, do jamais esperado... Diana contou o caso.
-Muito bem, então vamos ao hospital- Atendeu Otto. – Ela deve estar lá! Você fica Ágata?
O relato de Diana era tudo que ela menos esperava, perdida entre os fatos respondeu:-Não, eu vou, mas vamos resolver a questão do estágio primeiro, isso é mais importante.
Otto dirigiu um olhar de desprezo, levantou-se, puxou Diana pelo braço, e de mãos enlaçadas saíram do estúdio, saíram do local no carro de Otto, Ágata e sua fúria percorrendo os arredores, calculando o perfeito gesto de vingança: era muita humilhação o que Otto fizera. Acidentes acontecem todos os dias, a toda hora, mas uma contratação para um projeto como aquele era uma única vez na vida.
Deu a ordem para encerrarem as inscrições e para desmontar as estrutura do evento, era o fim, sorte dos que haviam escutado, azar aos antônimos. Deu a partida em seu carro, e foi ao maior hospital da cidade, sentiu medo de ser seguida, algum tiete ou fã desgovernado a atacar aproveitando do momento de solidão, mas a solidão em sua vida não era só momento, era eternidade, completo existir, porque ela mesma não dava chance a si, quanto mais aos outros.
Passou por um semáforo onde havia marcas de um acidente, sorriu. E fez de conta que por alguns momentos no mundo só existiam seu pé e o acelerador, em plena harmonia.
Otto e Diana, seguiam bem a frente, quase de encontro ao destino pretendido, ele dirigia com uma mão, a outra apertava forte a mão dela, àquela altura já tinham descoberto nomes, e idades... Era o primórdio para tão bizarro encontro de estranhos. Ela voltara ao pranto.
Otto precisava dirigir com as duas mãos, sentia-se mais seguro, mas aquele contato o estava fazendo tão bem... Carência? Se sentia a pessoa mais segura do mundo... Por que? E só sabia de um nome, um número representando idade, e de um acidente, mas estava feliz, o contato o fazia completo, esquecer de posição social, de status, compromissos e preocupações, era sensação inexplicável, demasiada prazerosa, seria recíproca?
Chegaram ao hospital. Tomando lugar e voz, Otto, portando mais calma, dirigiu-se á recepção, e com auxílio da irmã da vítima. Sim, ela estava ali, a amiga também, tinham sido atendidas faziam dez minutos, numa bateria de exames se encontravam. Esperar era o feito da vez, beberam água e aguardaram o médico responsável pela entrada delas, sedentos de informações, aguardaram.
Ágata já estava próxima, apenas observando ambos, escondida, nada contente.
Uma hora,e o médico chegara... :- Ela está melhor agora fisicamente, mas está respirando com auxílio de aparelhos e em coma profundo, mas pelos indícios do exame, o coma foi ocasionado somente por exaustão e choque, não podemos afirmar, mas é possível que ela acorde no máximo em alguns dias. A outra moça, chegou aqui a pé, muito ferida, foi transferida para outra cidade, mas recebemos a notícia de que no meio do caminho ela não resistiu...
(mais pranto, um tanto de alívio, pois ao menos não era sua irmã).
...- Agora ela será transferida para um quarto e poderão vê-la á tarde. Por favor, não deixem de preencher o formulário na recepção, e cumprir com os processos legais do hospital.
Mais tranqüilos saíram do hospital, ele a levaria em casa, Ágata continuou no hospital, escondida, revelando-se somente após a retirada de ambos. Em falso pranto na recepção, se apresentou como outra irmã da vítima, conversou com o médico, ele lhe informou o mesmo, inclusive o número do quarto, o médico ficou deveras surpreso: Dra. Ágata, passando por aquele mal, justamente no dia de lançamento de seu projeto... Mas se conformou, pois o Dr. Otto estará ali também, união sem igual imaginava ele. Lhe informou o número do quarto, e lhe deu um crachá de livre acesso ao paciente.
A fome e a vontade de comer, um cínico obrigada ela lhe devolveu, e acabara de formular seu plano: Esta menina tem que pagar por roubá-lo de mim, vou vir hoje a tarde sozinha, e desligar os aparelhos de sua irmãzinha...

Continua.

Balada da Chuva Poderosa





Nem faz tanto tempo que eu a vi, nem pra sentir saudade deu tempo, o tempo nem me deu seu beijo neutro ainda, e já estou pronto a dela falar, porque era outra vez da sua visita, do seu momento feliz a umedecer os mantos de vida. E que venha, cálida ou gelada, amarga ou insípida, temerosa ou engraçada, de esquerda ou ventania, que enfim venha! Pra a agente ter mais noção de natureza, pra gente saber cultivar coisas que não vem pro mal, pra gente saber que nem tudo vai ser sempre igual, pra gente saber que alguém distante é que sofre, pra gente saber que Deus existe!
Contando gotas da janela, esperando ela passar, pisando numa poça pra ver a lama inundar o rosto... Passa-se a mão, e por trás dela está escondido um sorriso, um valoroso “quero mais”, pegadas, pegadas, a sua marca só não vê quem realmente a ama de verdade!
E do que eu vou falar sem repetir os versos? Como vou declarar esta paixão sem dizer que já tive medo? Não falha, ela não falha não, primeiro no seu passo a passo trazendo inconstante incômodo pra quem necessita oposto, soprando as nuvens no seu andar pomposo, de aquarela colocando um cinza amargo sem buracos nas alturas...
“Você aguarda um instante?”
“Sim, aguardo!”
De uma vidraça frágil, massa transparente de orgulho, desaba arregalada, de tetos castanhos, fonte de vida longínqua numa queda viva e bruta, incessante, que faz sua ‘baladinha’ molhada tocar no ritmo das pegadas frenéticas que fogem!
Que ódio dessa gente burra! Que raiva dessa prosa em pé!
Eles não sabem que em qualquer tempo, minuto, ou salivar de empáfia minha mãe se joga num salto alto de batom colorido e toque eclético?
Por que não carregam seus guarda-chuvas pretos, ou estampados de ‘Madonna’? E também não sabem que as árvores são fiéis aos gritos que delam escapam numa concentrada brincadeira alegre?
Que raiva... Que ódio!
E não finjam que são indiferentes, porque por bem menos motivos, por matéria morta e seca, ao cubo se elevam num fechar de caras!
Que raiva... Que ódio!
Imprecisa, se vai quando bem entende, porque nela ninguém manda, apenas procria suas larvas temporárias, rachando as coisas mais marrons sob si, e escorregando de leve, suave como num passo de dança (ela ensaiou milésimos para decora-los), esguia-se, muda a expressão numa boca sedenta. Depois nem mais ‘ritmiza’, deixando sozinho e fraco quem já amou.
Desgraçada! Sem coração!
Mas foi bem clara quando disse que não tinha, não mandou enfileirar paixões, frenetizar canções em seu nome. Foi feita pra criar, pra cair, pra a agente ter mais noção de natureza, pra gente saber cultivar coisas que não vem pro mal, pra gente saber que nem tudo vai ser sempre igual, pra gente saber que alguém distante é que sofre, pra gente saber que Deus existe! E só, sem sal e nó, entre nós e si... E só sem os seus!

SUPERFICIALIDADE X SINCERIDADE



Existe uma coisa sem a qual nós vivemos bem, mas com a qual vivemos muito melhor, chama-se esta prezada senhora, organização! E assim, desde que foi criada (provavelmente junto com a terra), nós a utilizamos em qualquer atividade, para qualquer finalidade. Organizamos, dividimos, subdividimos, para que tudo tenha melhor visualização, estética, e quando surgir a necessidade, esteja de prontidão á nossas cabeças sem muito penar pela busca. Em basicamente tudo aplicamos organização, na arte não é diferente, dividimos em classes para melhor compreensão, e assim deve ser, sem muitas mudanças, porque embora nos adaptemos rápido, involuntariamente odiamos mudanças deste tipo, por isso que neste vasto mundo elas não acontecem com tanta freqüência, e quando acontecem demoram a dominar a massa... Demoram mas dominam, e a organização está ficando um pouco em segundo plano, esta questão de classes está se perdendo, são indícios do período pós-modernista que vivemos, em que um artista não é mais colocado em pedestais pelo seu dom, pela sua especialização naquela determinada área, porque de acordo com este modernismo não existe mais as classes literárias como romantismo, realismo... Ainda são cultivadas, mas não mais tão importantes ao classificar alguém, se é escritor e pronto! E num geral, estão lutando para que não haja mais esta organização, classificação. Futuramente serão chamados de artistas e pronto! Por que? Porque o caso mais comum que vemos, nas noticias de arte dos jornais, nas sessões de novidades culturais, é um escritor estreando numa peça de teatro, um músico lançando um livro, alguém fazendo algo novo, que não é do seu trivial, avançando, indo além da sensibilidade de ser artista.
Não podemos julgar que nasce de uma vontade repentina, pois muitas vezes está no sangue, em alguma área das próprias raízes, do passado, a pessoa é que estava insistindo em outra coisa. Até aí tudo bem, mas até onde essa mudança essa aptidão por ser um ‘multimídia’ vai com sinceridade? Já que também envolve um pouco a questão da mídia, da imprensa, do “aparecer”, estar em foco, e não ser esquecido... Nessas circunstâncias vale então também fazer o jogo sujo de se inovar, reciclar-se e novamente virar novidade para ser tinta e traços em uma revista, jornal ou tela. Conta-se então atualmente a sensibilidade, o primórdio, o diferencial do artista, e não no que ele está ‘acostumado’ a fazer, e infelizmente é um problema que vicia, onde todos se acham bons, e torna-se fácil um grande escritor tornar-se um grande ator, porque tudo parte de uma vontade, uma remota e corrosiva vontade de ver, talvez o seu personagem, o seu cenário, a sua situação, ao vivo, como ele idealizou.... Então algum produtor topa, e nasce uma nova estrela, porque mesmo que ele seja ruim poucos vão falar, mesmo que seja apenas superficial, sem emoção, e feito de facetas e personagens já bem maçados do nosso cotidiano vão dizer que: “Foi lindo, muito bom mesmo!”, e o próprio espírito da arte vai se confundir, mas quem liga para ela não é mesmo? O importante é estar no meio dos que fazem, e fazem bem (mesmo que não façam!). Assim que funciona, algum bom trabalho bem divulgado, te levanta, você vende sua imagem, seu produto, e é indispensável continuar sempre criando (ou copiando) para não perder o brilho, vai fazendo assim, sabe Deus por quanto tempo, até que um patrocinador, ou testa de ferro, ou produtor passe a te bancar, é necessário então fazer o próprio sensacionalismo, colocar uma mínima notícia no auge dos acontecimentos, para que não passe pela cabeça dos tais patrocinadores ou produtores, cortar a sua verba. E sempre criando, sempre criando, e fazendo sensacionalismo.... E o mais importante: não fazendo burradas, mas se for fazê-las, faça coisas que o faça parecer, exaltá-lo de forma positiva, e joga-se este ato encima de uma nova criação, e assim caminha a sua humanidade no mundo da arte dos “famosos”. E se isto acontece com quem apenas faz um tipo de arte, imagine então com quem utilizam vários... “ Ela lançou um novo livro, semana que vem estréia sua nova peça no teatro municipal, irá ministrar um curso de dança, no próximo mês irá abrir a sua exposição de artes plásticas, e encerra hoje a visitação do seu ateliê para apreciação de suas esculturas, e seu novo CD está em segundo lugar em vendas no mercado”. Isso não é uma pessoa, é uma máquina, pois uma frase bem antiga, ainda é muito certa: De quem faz muitas coisas ao mesmo tempo, alguma coisa não é bem feita.
E nada, realmente nada se compara, se iguala aos que realmente sabem fazer, aos que portam talento. Mas há exemplos como estes lá de cima, que servem para os realmente talentosos batalharem e mostrarem quem realmente é capaz! De quem não é superficial, não se vende e não se compra, embora este ‘se comprar’ seja muito tentador, e há estes superficiais, mas “talentosos” um dia a casa cai, a máscara se desfaz, e a fama também acaba, porque novos nomes surgem, e não há lugar para todos neste mundo. Então caso você seja um multimídia, não se preocupe se não tiver mais nada para criar, ou copiar, caras virgens irão brilhar no seu lugar, e ninguém vai chorar, no máximo sentir um pouco de falta, mas nada que não se supra... Por isso não faça por simples vontade, mas com razão e sinceridade!

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

UMA HISTÓRIA QUE NUNCA DEVERIA SER CONTADA








I – REGOZIJO DA MORTE

Era a missa de sétimo dia da pior inimiga dela, e como ótima pior inimiga que era, foi até a igreja, para que enquanto os demais choravam pela perda trágica da adolescente em um acidente de automóvel, ele rir sem vergonha na cara. Realizou esta vontade que parava por ali de tanta insanidade, já era loucura rir daquele pobre diabo que morrera a odiando, ela ainda estava viva, e podia odiá-la, praguejar para que o inferno fosse um bom lar. Depois da missa, foi para a casa e estava sozinha, seus pais estavam viajando há duas semanas, e chegariam apenas dali a quatro dias. A pé caminhou pela cidade, e em casa preparou o jantar, a porção única para ela mesma.

II
– A TOTAL FELICIDADE NÃO REINA

Ligou a TV, e esta por diversas vezes seguidas desligou sem nenhum toque dela, ou de qualquer outro que ali estivesse, também pudera, estava sozinha. Deixou a TV que aumentava de volume, e trocava de canal quando bem entendia, percebia tudo isso enquanto estava cozinhando. A chama do fogão de súbito, tornou-se uma fogueira, colocando fogo em parte da cozinha, lhe queimando a face, sentia arder, colocou o rosto embaixo do fluxo da torneira abafando os gritos de dor, com baldes de água e uma coberta fez morrer o fogo. Viu seu reflexo, ficara deformada, precisava de tratamento médico. Passando pela TV, ela explodiu e cacos do vidro, lhe atingiram o corpo de leve, cortes. Foi tomar um banho. Assustada, muitas coisas estranhas estavam acontecendo, queria sair dali, foi tomar um banho, um bom banho talvez resolvesse.

III – A SOLIDÃO É BREVE

Ligou uma música alta no cd player, a música retorceu o som depois que estava sob o jato da ducha quente, o som ficou estranho, uma voz um pouco incompreensível parecia dizer seu nome, a chamava alto com o som da música original de fundo, temia no chuveiro sem nada ver além das paredes branca de azulejo, a voz ficava incompreensível a um qualquer, chorou, sem saber o que fazer, a música parou. Tomou um mínimo de coragem e saiu do banho, no espelho embaçado encontrou uma mensagem escrita no vapor: “Não sinta felicidade pelas pessoas mortas, onde estou, ainda te odeio, e estou bem perto de você”. Gritou e passou a mão no espelho, não era sua imagem, mas da amiga morta, repleta de ferimentos do acidente. Pasmou, a luz falhou e apagou em todo lar, em todo arredor da residência. Ouviu passos, muitos passos de pessoas correndo, vozes cochichando, mas estava escuro, via nada, alguma coisa puxou-lhe pelos cabelos e a arrastou até nem sabe ela onde, com força, com brutalidade, ela gritava mas não tentava resistir.

IV - O CASO NÃO É MAIS DE UM SÓ

Os vizinhos ouviram seus gritos, viam luzes piscar na casa, as janelas e portas baterem, quebrar os vidros. Nos lampejos de luz (que ela não via) viam as ditas pessoas caminhando, ou na janela, as impedindo de ajudá-la. Era feias, horríveis, de olhos negros, e úmidas. Muitos voltaram ao seu lar rezando. Um terremoto atingiu o lugar, durante quase um minuto, destruindo boa parte do bairro, a imprensa já estava a caminho, um padre já estava a caminho, este nada fez também por medo. A luz na casa voltou, e em sua visão não haviam criaturas, estava na cozinha, tudo continuava como quando como estava a cozer, aflita, dolorida, haviam somente restos do que fora sua casa, quase que em ruínas, mas ainda de pé. Uma mulher de joelhos e cabeça abaixada ao lado da geladeira, os vizinhos e próximos gritavam por ela, ela nada dizia, a imprensa registrava tudo, o padre jogava água benta que se transformava numa fumaça negra ao encostar numa barreira de energia maligna que agora protegia a casa. Se afastou da mulher, e ela se levantou a tendo em mira, andando torto, ela correu, e os de fora a conseguiram ver na janela, a mulher veio por trás e a puxou pelos cabelos levando de vota a cozinha, mas todo mundo viu e temeu.

V – NINGUÉM OUSA REPETIR O CAUSO, OU SE APROXIMAR DO LOCAL.

A Mulher lhe arrancou dedo por dedo das mãos, com a mão. Ela falou em meio ao sangue alheio: “Eu sou sua inimiga, nosso ódio uma pela outra me transformou nisso” Ela viu o inferno numa ilusão aberta ao meio da cozinha. “Você irá para lá comigo, sofrer comigo maldita!” Ela desapareceu numa gargalhada sinistra. Podia ser tudo mentira e ela acordar, a casa para quem a via de fora e não podia fazer nada começou a queimar lentamente. As gavetas de talheres abriram e tudo voou nela sentiu cada garfo e faca enterrando em sua carne, mas não morreu, apenas sofreu. Foi explicitamente perceptível um demônio descendo do céu, horrendo de asas abertas e entrando na casa, mais filmagens, mais fotografias. O demônio a levou consigo. O fogo parou, tudo se acalmou. É impossível destruí-la, muitos já tentaram, mas algo terrível sempre acontece. Quem tenta entrar vê a moça gritando por socorro e o demônio a prendendo, mas sentem tanta dor, que mais de um segundo é impossível, estes são os relatos. Ninguém se aproxima. Uma foto mal feita, borrada foi encontrada a milhares pelas redondezas, que parece ser o demônio prendendo a garota, foram todas destruídas, ninguém fala nisso, quem viu ainda é perturbado pelo fato, fato real de uma coisa que parece apenas ficção. Relatos de uma terrível história que nunca deveria ser contada, que nunca deveria ter acontecido.



quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Poema de Ruth Laus.

Conselho

Ame!
Corpo e alma isso importa!
Indispensável é sentir a vida,
Mas,
Se o Universo-Amor esmigalhar-se
Ame!
O Mundo!
Com toda alma, mesmo sem retorno.
O importante é não sentir-se morta!


CARTA DE MISS PURPURINA - De volta ás Origens!


Cidade quem sei o nome. Data linda, de um sol formoso!




Gente amiga deste e de outros planetas, que eu nem sei mais o que dizer...

...Ah, quanto tempo estas doces linhas já não tem meu toque, estava morrendo, em purpurinas sólidas de saudade! Mas enfim, cá estou para afogar as mágoas deste mundo belo, desta vasta imensidão de pessoas no mar da vida. Em todo este tempo vivi novas experiências, e como te conheço bem vou contar pra tirar esta ruguinha de curiosidade da testa, por que isso te deixa horrível meu bem. Brincadeirinha, é Um charme em qualquer peça, porque curiosidade e rugas fazem parte de todos, aliás, apenas somos o que somos porque temos rugas e curiosidade... Elas são opostos, representam os antônimos lados de nossas vidas: As rugas ficam transparecidas na pele, são a máscara que usamos, expressa nosso falso ser. O nosso duro cotidiano, as formalidades e obrigações. A curiosidade é nosso lado criança, nosso jeito verdadeiro, descontraído, brincalhão, fantasioso, que fica guardado (nem sempre) no interior delicioso dos nossos corpinhos! E vezes por outras como somos imperfeitos mesmos, elas saem juntas a caminhar nas faces e nos deixar loucos!!!!
Em toda eternidade, sempre viajarei, conhecerei novas terras, lugares, porque esse mundo é tão grande, e penso que já que faço parte dele, é mais do que uma obrigação, ao menos tentar, já que não vou conseguir mesmo, conhecê-lo num todo, cada grão de areia que cobre um solo maior, porque este grãozinho carrega consigo uma identidade inigualável, uma história rica de detalhes, pessoas, ilustres desconhecidos que a fizeram tornar-se real, e que deve sobre todas as coisas ser respeitada, porque é uma pequena parte do que faz o mundo... E esse perigoso mundo ainda não é o limite, existem coisas maiores por vir, mas que a criatura divina ainda teme colocar em nossos olhos, quanto mais nas mãos: Pois o mundo como disse, por si só é perigoso, imaginem então o quanto nós somos perigosos, já nós quem o constituímos.
Mas por favor, não me deixem ir muito longe nessa estrada quilométrica, sou louca, sabem bem, e desvio do assunto como um macaco desvia da sua árvore por um cacho de bananas... E gosto de um papo. Ah, desculpe, lá ia muito eu mesma desviar novamente. Vamos ao que é certo, ao assunto desta cartinha (rsrsrs)
Viajei há um tempão, por isso linhas por mim não eram mais compostas, fui para a Inglaterra, visitar minha cidadezinha natal. Lá que eu nasci, e como conclui a brega composição: “Lá quero morrer!” Morram de inveja porque nasci na cidade dos Beatles, em Liverpool. Linda de viver, e de morrer também, pacata em meios termos, amada sem igual, cenário de grandes vivências. A última vez que estive lá ainda era homem, depois aqui neste amado Brasil que ama, que recebe suas pessoas como se fossem as últimas, deuses, agem como ninguém por seus visitantes, que eu fiz minha cirurgia, colocando tematicamente as asas da imaginação nas costas e podendo voar mais alto, sobre os campos onde realmente muito almejava desde sempre. Lá não era possível, porque é Inglaterra , Europa, conservadorismo bruto grita em toda parte, apesar do mútuo respeito pelas classes, respeito expressado, porque no fundo nos corações, o preconceito e sua chama ardente, queimam no íntimo.
E saibam que fiquei a imaginar então como eu, após mudar completamente, e repito: completamente, a minha vida, seria vista naqueles lugares, onde habitavam conhecidos, amigos, parentes, aquela língua deliciosa que nasci falando, mas que por via das circunstâncias e sonhos tive de abandonar, a fazendo de hobby e sinalizador de maior cultura, num país onde ela é sinônimo de fundo conhecimento. E como se fosse já total absurdo, contrariedade dos seres, eu iria com meu namorado, o Olívio, lindo, moreno, alto educado, simpático de bem viver, tudo de bom, amo-o de paixão-ternura-louca. E seria conforme disseram os amigos, uma tremenda loucura aparecer lá transformada e com aquele macho de chaveiro. Repensei noites seguidas sobre o fato, porque não representava apenas viajar de menininha com um gatinho carinhoso para um lugar de pessoas muito conhecidas, também significava deixar meus filhos no Brasil. E eternamente, o sempre fez seu caminho lapidado de rosas e espinhos na minha vida mais uma vez, e com apoio dos filhotes, pois “sabemos nos cuidar”, “você merece esta viagem, não se preocupe com a gente mãe”, eu fui, parti naquele avião sem coração na mão, há tantos anos... Deixei uma farta compra na dispensa dos babys, e crédito nos comércios ali perto para o que precisassem, era uma aventura, porque não tinha programado hotéis, nem roteiros, nem agendado visitas. Surpresa!... Sim, seria assim.
Os grãos daquelas estradas não eram mais grãos, mas sim lajotas de uma pedra forte ferida. Tinha o mapa em minhas veias, e palpitando nas pupilas como um robô destinado a matar o inimigo. Andei por tudo, lhe mostrei todos os pontos, e lugares que costumava freqüentar, freqüentamos! Cada passado que dava, ele repetiu comigo. Foi lindo, matei muitas saudades, até briguei com uma vendedora numa loja se souvenirs, porque a cumprimentei achando que era a Fafá de Belém, mas era a Tina, doce e velha Tina, ela não aceitou viver o minuto Fafá, e brigamos, não somos mais amigas, um peso a morto a menos na carga pesada que levo nos ombros. E Era hora então do momento fatal, porque os lugares eram muito bons, tudo estava magnífico, mas os lugares não falavam, não pensavam, nem tinham reações, o momento de rever a família, liguei um dia antes combinando um almoço na casa de uma tia. Me atrasei simulando casamento, estreando de noiva. Há, há, cheguei na casa de titia, quase arrebentando o portão de ferro, não de nervosismo, mas ansiedade. Mãos suadas e coladas nas de Olívio. A porta das frente aberta, apenas me aguardando passa-la. Olívio resmungou: - Você ainda pode desistir!
- Cala a boca menino! – Minha personalidade não estava ali pra desistir.
Entrei, e uma roda em volta de mesa farta, de comidas desgostosas, estava a me aguardar. Me olharam em silêncio dos pés a cabeça. Cada cutícula foi analisada. Os poros inspecionados.
E então sorrisos, e pularam, num abraço coletivo me beijando e fazendo sudações mil, o mesmo repetiu-se com o amor da minha vida. Me elogiaram tanto que nem sei. Fiquei estranha, porque eles esperavam minha nova forma, na breve investigação? Meus filhos haviam ligado e contado... Lindos da mãe! Então era família, me respeitavam, e amavam ainda mais porque havia me assumido, tinha a cara exposta ao universo sem vergonha, e com vergonha na cara para usá-la como bem entendia já que era minha. Amigos também presentes corresponderam ao carinho sem diferenças... Isso era família gente, cantando nossa canção, cultivando costumes, existindo sem preconceitos! E vivi os outros dias seguintes, com toda felicidade pertencendo apenas a mim, quem quisesse um pouco, teria que pedir, desculpe! Excuse-me!
E meus filhos, receberam todos os agradecimentos que passaram nas asas dessa louca bruxa loira... Comemoramos muito. Tabus já eram extintos, substituídos foram por ligações mais próximas, este santo Graham Bell, e sua invenção maravilhosa, que só mais maravilhosa era a invenção de Deus: famílias carinhosas, com respeito, compreensão e mente aberta!
Gente amada, rica, riquíssima, Vou cuidar de alguns afazeres, e ver como está o frango que coloquei no forno, depois conto mais desta louca vida de vocês próprios que nem sabem, hehehe...


Beijo quente e refrescante, molhado de glitter e gloss!



Walkíria Werônika
MISS PURPURINA

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Crítca de Itajaí, e brilhantina...





O simpático palco da Casa de Cultura de Itajaí é pequeno demais para o vigor, o entusiasmo e a alegria transbordante do grande elenco do espetáculo Itajaí... Lambreta, Brilhantina e Rock’n Roll. Neste sentido, vale a pena lembrar de B. Brecht quando afirmava que antes dos espectadores se “transformarem” por terem contato com uma determinada realidade ficcional apresentada a eles, seriam os próprios atores aqueles que em primeiro deveriam exercitar as suas vivências, aperfeiçoando assim seus próprios conhecimentos quando da discussão dialética acerca da atuação dos conflitos e dos processos sociais em cena. E era aí que residia um dos princípios das suas peças didáticas. Isto é, as peças didáticas poderiam até ser representadas sem a presença do público pois seria a experiência dialético-pedagógica, por excelência, que estaria em primeiro plano.
E é mais ou menos isso que se vê no espetáculo Itajaí... Lambreta, Brilhantina e Rock’n Roll , engenhosamente marcado e ensaiado por Valentim Schmoeler. Porém, neste caso, vale ressaltar que a presença do público é indispensável. Notava-se, em cena, que os atores sabiam exatamente sobre aquela época, aqueles tipos, aqueles lugares e aqueles comportamentos que representavam, além dos hábitos e costumes possivelmente vivenciado por seus pais e avós. E é aí que reside o poder do teatro, que deu aos adolescentes e jovens do grande elenco a conhecer por meio do jogo teatral este tempo pregresso, que entretanto é naturalmente melhor apreciado, em seus detalhes, por quem viveu neste período e reconhece as citações presentes no espetáculo: músicas, propagandas, programas de rádio e tv, gírias, celebridades, etc. Este espetáculo deve ser um saudoso presente ao mais velhos, homenageado-os; e a possibilidade de fazer uma ponte entre os mais jovens de hoje e esse painel da Itajaí dos anos sessenta.
Verifica-se que é na construção do painel da época que sobressaem as maiores debilidades da narrativa, que tinha que superar a difícil tarefa de colocar em cena todos, ou quase todos os quarenta e tantos alunos integrantes do Exercício Cênico Anchieta. Para estabelecer esta narrativa que é inspirada em Filme Triste de Vladimir Capella, e que infelizmente não conhecemos, Valentim Schmoeler estabeleceu como ponto de partida, para nos conduzir ao “túnel do tempo”, o encontro memorialistico entre as ex-amigas de escola, Rosa e Raquel. Residindo neste “reviver” um dos belos achados da adaptação da narrativa que trabalha com a apropriação de um lugar de forte valor na memória coletiva da cidade, hoje a Casa da Cultura, ontem o Grupo Escolar Victor Meirelles, local onde se ambienta o painel dos anos dourados. Porém, uma vez que o adaptador e diretor nos propõem este “túnel do tempo”, as debilidades da narrativa se tornam mais aparentes e por vezes geram aquelas “barrigas” que fazem o espetáculo se alongar por conta de detalhes que já foram insinuados.
Como a narrativa necessita ser estruturada encima do coletivo dos atores, fica difícil conduzir todos os jovens – rapazes e moças - a desenharem seus tipos com igual desenvoltura, o que também esta relacionado com a função de cada tipo no desenvolvimento do próprio panorama: a estrangeira pedante, o rapaz de óculos, a menina do cabelo “pega rapaz” e sua amiga, o forte da turma, o tímido, a avançadinha, a menina que quer virar mocinha, etc. A dificuldade está em dar o que fazer a este numeroso elenco, não fosse o grande elenco talentoso ao dançar e cantar as músicas da época.
Com isso, quer se dizer que o espetáculo Itajaí... Lambreta, Brilhantina e Rock’n Roll é um exercício extremamente válido e enriquecedor sobretudo como pesquisa de época para formação de alunos-atores. São nítidas as potencialidades do conjunto de jovens e a engenhosidade e talento de seu diretor, Valentim Schmoeler, na condução do espetáculo. Porém, o mesmo exercício é fragilíssimo do ponto de vista dramatúrgico, pois falta uma ou várias ações dramáticas claras o bastante para alavancar o movimento deste quadro que se quer pintar. O artifício do encontro, por exemplo, entre Rosa e Raquel que prefigura o tom memorialistico, e tem seu apogeu na cena do baile, se contrasta com o final. A presença deste golpe de teatro absolutamente melodramático gera uma volta inverossímil de Rui. O namorado de outrora, que tendo perdido o pai e morrido a esposa, retorna agora, somente agora, no final da peça, para encontrar sua ex-namorada, de tempos atrás e cujo filho tem os seus olhos. Falta ao espetáculo uma certa arquitetura dramaturgica, sobretudo do ponto de vista da ação dramática que prefigure os conflitos internos e externos e desenhe com maior vigor o perfil dos tipos apresentados. Não seria de todo perda de tempo se dedicar a estudar uma peça como Aurora da minha vida assim como o argumento de uma novela como Estúpido Cupido para aperfeiçoar aquilo que se quer dizer.


Por: Walter Lima Torres

NOTÍCIAS CULTURAIS

Caminho Divino

37 pessoas partiram pelos caminhos de Santiago das Missões. Durante seis dias homens e mulheres estarão curtindo os encantos deste que é um roteiro místico e religioso e promete levar os caminhantes a um mundo de encanto, magia, contemplação e reflexão. São 147 quilômetros em meio ao verde da natureza da região missioneira do Rio Grande do Sul. Cada passo é uma nova descoberta sobre a vida e a cultura do homem do campo. Durante o percurso pode-se desfrutar da hospitalidade das comunidades que recebem os grupos e oferecem a mais autêntica comida campeira, com alojamentos simples e um merecido descanso ao peregrino. Nesse grupo, muitas pessoas já fizeram diversos roteiros parecidos com a proposta dos Caminhos de Santiago, dentre elas, 7 já realizaram os Caminhos de Santiago de Compostela. Também está no grupo a Presidente de Honra da Associação Catarinense dos amigos do Caminho de Santiago de Compostela. Que representem nossa terra, e conheçam enfim a verdadeira paz!

7º Concurso Literário da Câmara Catarinense do Livro


A idéia é estimular a leitura, divulgar novos talentos e promover a produção de textos literários entre as crianças em idade escolar. Serão 3 categorias: Mini-conto para alunos da 4ª série, Poesia para alunos da 8ª série (ambos tema livre) e Crônica, para alunos do 3º ano do ensino médio. Nessa categoria o aluno deve utilizar a temática de um ou mais livros do Vestibular UFSC 2008. Qualquer instituição de ensino de Santa Catarina pode participar com no máximo 3 trabalhos, um em cada categoria. O valor é gratuito. Informações e inscrições: (48) 3224 5135 e (48) 9961 7579 ou pelo e-mail:
comunica@cclivro.org.br

Vítimas de Si - 5ª parte - final.





Ora, ora, quem diria. A pequena travessa, a menina prodígio de pernas grossas e compridas (agora bambas) também tinha coragem de fazer uma coisa daquelas... Com quem aprendera? Realmente sua tia era uma péssima influência, os filmes não ensinavam aquilo, não com aquela veracidade. Por um súbito instante se olharam, Selina mirou o corpo morto da velha, Valquíria expelindo gotas geladas dos poros. Ninguém passando na rua, a luz da sala, falhando, devia ser mau contato, o sofá dela com o braço rasgando deixando a mostra espuma. Pobrezinha, sua casa tão velha, ela tão velha! Selina cessou de reparar no anti-luxo do lar, e focou a parente, pra de súbito também não tomar um tiro.
- O que você está fazendo aqui?
- Sendo testemunha do crime que você cometeu. – Não acreditava nas próprias palavras. Ela era a ovelha negra da família, ninguém tinha mais direito ao cargo.
- Você sempre na hora errada, no lugar errado.
- É, eu tenho esse péssimo hábito, me desculpe. Mas o que VOCÊ está fazendo? O que Dna Julinha fez para merecer isso? – Selina sentou ao lado do defunto.
- Não interessa! Não é da sua conta. – Salivava de ódio pelo inesperado encontro.
- Ei, acalme - se, estas coisas acontecem. – Fazia agora o tipo ‘amiga-do-peito’. – Já aconteceu comigo, ninguém vai te prender, não vou deixar. Mas tudo que acontece, tem um motivo, a gente precisa saber qual o seu motivo pra ter feito isso. – os lábios levemente comprimidos num sinônimo de timidez e desentendimento: FALSIDADE – FINGIMENTO – INTERESSE !
O revólver tomou nova direção, rejuvenesceu após a ação, a lisa testa de Selina era a mira.
- Vá em frente, e morra sozinha, sem ninguém do seu lado, vivendo de mentiras! – O desafio fora lançado acompanhado de medo. A outra era doida, doida, podia muito bem mandá-la a “aquele lugar” e apertar o gatilho. E não que previsse o futuro, mas foi o que exatamente aconteceu, e Selina nem tentou desviar-se do tiro... Não havia mais munição (Que azar! Que sorte!) Numa última demonstração de desespero, Val correu para a rua, e entrou no carro, disparou para sabe-se onde... Mas Selina sabia! Esperou mais um pouco, apagou a luz irritante que não cessava de fraquejar, arrumou o corpo morto no sofá desconfortável, fechou a porta e com cautela, muita cautela de quem sabia o que estava fazendo, de quem sabia que muita verdade estava por vir. Ativou a ignição e imaginando possíveis acontecimentos, nem sentiu chegar na garagem. Tudo em silêncio, era como um filme de terror, onde ela era a mocinha agora (finalmente era a mocinha em uma história daquelas... Tantas vezes, todas as vezes fora vilã), e se bem conhecia o roteiro, iria entrar na mansão silenciosa, vazia, uma música de suspense iria soar para o clima ficar mais pesado, e de repente Val (a vilã) surgiria em suas costas do nada, a deixando sem defesa, e levando-a apara a morte, queima de arquivo. Este era o ‘script’, mas Selina não iria segui-lo, (in) felizmente não, erraria os textos e tomaria outros caminhos, colocando a perder a gravação! Decepcionando o diretor e a antagonista, fazendo uma obra de improvisos, e sem nenhuma técnica!
Entrou e passou devagar, ouvindo somente seus passos nos salões e corredores onde pisava, meia-luz, e flores... Muitas flores jogadas ao chão, eram todas orquídeas da sua preferida, do pé agarrado a figueira da sua antiga casa! As amadas, sagradas orquídeas branca e rosa que somente haviam naquele lugar, que cultivava com tanto carinho quando presente estava... Havia trazido apenas um ramalhete, alguém fora de propósito, para magoá-la, até a casa naqueles últimos minutos e colhido muitas, feito aquela atividade de ódio. Flores, obras de arte da natureza, tão raras, e delicadas jogadas num mármore gelado sem coração! Desviava a cada passo, sentia uma dor de final infeliz. No quase escuro, se afastando das flores, não pisando-as! Por quê? POR QUÊ? P-O-R –Q-U-Ê ???????
Ajoelhou-se, e recolheu algumas delas, as lágrimas eram inevitáveis... Há tempos não chorava com tanta vontade, ali sozinha na casa grande, cuidando das flores já sem vida.
E foi assim por onde passou, um extenso caminho de Afrodite, onde gotas de sal de suas pupilas regavam as pétalas. O quarto da irmã estava aberto, até então nenhum sinal da rival, da prodígio ruiva. Se não ali, onde estaria então? “No cemitério, no túmulo da mãe pegando a chave que abriria a caixa. Ótimo, Selina estava prestes a pegar a caixa, cuidá-la como fosse um filho, era somente esperar a chegada da Val, para a força tomar-lhe e abrir a maldita caixa, o maldito motivo pelo qual estava ali. Ou será que a “vaca” já havia tomado posse da caixa e a abriria ali mesmo perante os restos de Jucélia.
Sob a hipótese, pôs-se a correr, entrou no quarto amplo e sem graça, de decoração gelada, não se sentia conforto com olhares, apenas de forma corporal, haviam mais orquídeas sobre a colcha de cetim na cama. Brancas e rosas como a vida deveria ser: cores intensas, amenas e furiosas! Procurou a caixa, abriu o guarda-roupa, nada, apenas coisas estranhas, nada de vestes, mas sim armas, e coletes e roupas a prova de balas, e caixas com líquidos, ampolas e seringas limpas vazias. Oh Por todos os Deuses, o que pretendiam? Onde estavam as vestes da irmã? Sentiu profundo nojo, e admirou mais um tempo alguns coletes a prova de balas, teve um nas mãos...
Olhou sob o guarda-roupa, então entre o colchão e a armação que o sustentava estava uma caixinha de madeira lilás pequena, prazer imenso lhe rodeava, ia de encontro ao desespero e decepção: não era dinheiro, não muito ao menos. O que devia fazer? Não importava (importava sim), agora era vencedora, tinha a caixa, em sua posse, e chaves eram dispensáveis, pois qualquer impacto a abriria, a destruiria revelando o conteúdo. A tão almejada caixa, toda uma vida além da delas, estava ali, estavam ali, olhando-se, como duas guerreiras em penoso combate, era etapa vencida... O tesouro imaginário, era de sua possessão. Como além de vencedora, gostava de humilhar o adversário, esperou Val para se vangloriar da conquista e brigar um tanto mais com a nervosinha de mãos sujas de sangue. Mas ela? Ela em si estava muito tranqüila, parecia estar esperando todos aqueles momentos desde que chegara ali. Algo de agitado a aguardava, estava tudo muito comum, e não dependia dos anos passarem, eternamente naquela família seria assim: problemas, pessoas que se amavam e se odiavam, e surpresas boas e ruins... A boa ainda não tivera acontecido, a ruim também não, e empate, uma anular a outra era inválido, não existia! Mas a boa era ela estar ali, próxima das coisas que gostava (das pessoas) dos lugares que gostava, das pessoas e coisas que podia chamar de suas. Mas faltava ruim, e não demoraria a acontecer
Á tampa da caixa, quatro letras brilhavam em tinta alto relevo branca: S C V C. Um enigma? Adorava enigmas... Mas só os adorava depois que conseguia resolver, até então era alvo de profundo ódio. Aceitou a oculta proposta e maquinou em torno das letras: Foi rápida... A Caixa era destinada a ela e a sobrinha, então as letras, já que fechava o raciocínio, significavam suas iniciais: Selina Castelão, Valquíria Castelão. Quase duvidou de si mesma pela facilidade, mas era isso, não podia subestimar-se, nem sobreestimar a caixinha. Val demorava, e fazendo um desencontro de ida e vinda de propósito, foi ao cemitério. Imaginava a irmã na superfície da cova, os restos do que sobrara de uma poderosa Castelão, agora como mais um humano, cumprindo o destino de todos, colocando-se na igualdade dos seres, não sendo mais!
Chegando, em um novo carro, um que até então não dirigira, porsche azul metálico. Correndo no cemitério não tardou a chegar na sepultura, havia um enterro, outro enterro em quase madrugada, devia ser moda. Olharam-na com repreensão pelo desrespeito, como se fosse realmente lhes dar atenção. Pronto! Ma freada de saltos perfeita, a surpresa má estava acontecendo agora: a cova aberta, um caixão fechado na superfície, olhou no buraco aberto e nenhum sinal de chave, pensou em pular no espaço para procurar na terra a maldita chave, mas não o realizou, Val já devia estar com a chave... lhe deu uma ponta de vontade de abrir o caixão... Pra que também? Só faria mãos sofrimento. Saiu gritando pelo coveiro, escandalizando o cemitério, interrompendo o enterro.
- Quem desenterrou esse caixão?
- Eu senhora. – De humildade inimaginável. – Dna Valquíria ligou, a família vai precisar de um caixão daqui a pouco, e como este estava apenas aqui na cova vazio, eles vão usá-lo.
- Na cova vazio? – foi um grito isso.
Estava realmente vazio, ela o abriu com ajuda do homem, e já não esperava restos, mas o dito vazio, o encontrou, não encontrou nada e isso era alguma coisa, o mínimo vestígio de enterro era invisível. Estavam mentindo, gritava a si mesmo dirigindo de volta, a estrada não existia, quase bateu diversas vezes... SUA IRMÃ NÃO ESTAVA MORTA! ESTAVAM MENTINDO! Essa era a surpresa boa de verdade? SIM! Ela poderia não estar enterrada em outro lugar, mas estar viva! E a surpresa má? É que por algum motivo péssimo, ao qual toda humanidade provavelmente temeria, eles haviam mentindo, era extremamente grave! Selina estava louca, chorando, com a música ligada no volume máximo, uma música que odiava, dirigia sem sentir, mas tinha noção de que estava louca. Louca, louca...
Não sabia mais o que fazer, o que dizer... passava as mãos no rosto para enxugar as lágrimas, não conseguiu abrir a porta da frente de tão nervosa, a chutou e ela se foi rápida. Não deu muitos passos, e homens grandes, armários humanos a seguraram no hall, ela berrou e berrou, mas eram insensíveis, surdos (era uma ilusão? Já não tinha noção da verdade)! Um deles lhe esbofeteou a cara, e ela sentiu que era verdade. a mantinham presa no salão principal.
- O que foi? É um assalto?
- São ordens de Dna Valquíria! – Um deles exclamou mecanicamente sem olhá-la.
Ah claro, Dna Valquíria, ela tinha planejado tudo... Aliás, direto no assunto, ela descia as escadas, acompanhada de sua mãe Jucélia, Castelão, a lendária Jucélia, alta, loura de olhos grandes e bela. Viva, mais viva que todas ali, de vestido branco esvoaçante, era um ponto na paisagem a ser mais admirado, mais raro!
Selina então a vê-la enlouqueceu de vez... Mas controlou-se, sabia controlar-se, e já havia sonhado com a irmã viva naquela casa... O sonho realizara! Que ridículo, seus sonhos nunca haviam se realizado, e de prontidão acontecia uma barbárie daquelas.
Os lábios carnudos bem vermelhos, era tão linda, queria tocá-la porque não estava morta, estava viva!
- Jucélia, deixe eu te dar um abraço minha irmã, por favor! – Não cabia em si de ódio, na verdade o abraço era farsa, queria esganá-la, mesmo sendo o que mais amava na vida.
- Não! – Sua voz doce, forte. – Sem abraços, porque eu te odeio minha irmã, você fez tudo dar errado nas nossas vidas! – Valquíria a abraçava por trás, fazia uma escultura imponente, ganhadora de prêmios: mãe e filha juntas acabando com uma tia. Daria tema de um bom livro, um sinistro conto. – Vamos acabar logo com isso filha.
- Acabar com o que? – Ela se debatia presa nas mãos que mais pareciam algemas. – Voltem aqui, me perdoem, eu imploro! Voltem, me perdoem. – gritos e lágrimas que só se ouviram numa guerra, em campos de concentração. Sabia que algo de terrível ia acontecer. Ela ofegante, a respiração cansada, esperando nem sabia o que, foi quando ambas voltaram, e a dupla dinâmica driblando mais gritos e chacoalhadas, lhe aplicou uma injeção. Foi questão de segundos, e não conseguia, apesar da força de mil homens, mover um músculo, um tranqüilizante poderosa, corria em suas veias, a deixando frágil como um bebê, um cachorro que depende do dono. A ‘coisa ruim’ se aproximava, se acalmou involuntariamente e esperava uma explicação que não tardou a ser dada. Olhava para a irmã, linda estava, linda, nem acreditava, estava realmente emocionada e arrependida, não era pra ser assim! Não era! Não era! NÃO ERA! Estava tudo errado, isso significava normal, já que sua vida sempre fora errada? Esperava ficar mobilizada, fraca perante desconhecidos, homens de armamento pesado procurados por todo mundo, mas nunca sua irmã e sobrinhas. No sofá da sala de estar, só as lágrimas, as malditas gotas de sal, faziam movimento em sua face corada e inchada. Queria falar tantas coisas, e não conseguia, era um cachorrinho dependendo completamente do dono, e nem ao menos podia abanar o rabo para mostrar seu contentamento... Tinha tanta raiva, ódio corroia suas células.
- Minha irmã. – Mais gotas de sal, esse era o amável tom que usava em conversas deliciosas que duravam horas e as deixavam tão bem, felizes, e que há anos não escutara! Esse era o tom, e ela o usava como se fosse NORMAL. – Você acabou com nossa vida, você sabe. – Tudo pensado diversas vezes por Selina estava acontecendo, ela também tinha noção, eles tinham ódio por isso, era um rancor guardado, o que era muito pior! Ela citou exatamente todos os casos que tiveram de começar do nada, de recomeçar... – E agora você voltou, e preciso me vingar preciso acabar com você, antes que acabe conosco outra vez, muitas pessoas me agradecerão por isso. Eu te amo, é sério, te amo, mas preciso fazer isso, por todos que você destruiu. Então, nós esquematizamos minha morte, foi tudo planejado, e na caixa havia somente um bilhete dizendo: “Somente Criaturas vastas Constroem”. As iniciais S C V C, que também são suas iniciais e de minha filha, porque vocês são criaturas muito vastas, e poderiam construir. Isso, este “tesouro”, era pra você criar plena confiança nela, e ela poder te matar como uma mãe pode com uma criança. Mas Dna Julinha deu com a língua nos dentes, e essa daqui desesperada a matou. Então tínhamos que tirar toda farsa de uma vez, e através do caixão desenterrado levá-la a verdade. – Que ódio, era realmente uma pena não poder mover um músculo, não poder falar nada ou socar-lhe o corpo todo. – Eu estava o tempo todo nessa casa, e quase deixei você maluca aparecendo naquela ‘festinha’, e no ateliê. Mas é isso irmã, estou viva, e antes que me arrependa é seu fim.
Mais uma injeção, uma arma mirada em seu peito. Ela não temeu, achava justo...
- Só assim seremos felizes, finalmente seremos felizes. – Apenas Jucélia falava, Val era menor, minúscula perto da mãe, um cão de guarda. – Eu cuidei de tudo, vai ficar tudo bem. – Selina sentiu o corpo enrijecer novamente, morrer de olhos abertos e consciência mecanizada. – O caixão que estava como meu no cemitério, será seu, meus parabéns, pois ao menos algo meu, você terá!
O tiro, o estampido grave, e uma bala de encontro ao seu peito, fechou os olhos e sentiu apenas, os olhos involuntários fecharam, a morte chegara. Era agora só mais um corpo sem vida, mais uma no prado da humanidade, não importava o que fizesse, o que tinha feito, o destino de todos era agora também o seu.
As criadas cheias das orquídeas nos colos, depositaram sobre o caixão lacrado todas as flores, cada uma parecia querer falar algo, dizer palavras de já saudade. Levaram o caixão longe, acompanhado de sorrisos. Numa estrada deserta, outro cemitério, risos e conversa corriqueira, a deixaram no meio de uma capela antiga da família, não visitada, não “habitada”, que bom! Agora Selina Castelão era página virada, a “criatura vasta” Se transformava em pó, morta, trancada numa caixa de madeira! Mais orquídeas, nenhuma lágrima da sobrinha ou irmã, mas sim felicidade! Alegria, alegria, alegria! Era o destino que elas haviam construído, e estava sendo protagonizado por quem merecia mais do que nunca!
As orquídeas brancas e rosas choravam, trancaram a porta pesada de aço, e se foram ter elas, sem criaturas malvadas por perto, o seu final feliz. Na caixa de madeira com letras em alto relevo, agora devia se aplicar ás iniciais, as letras J e C. Porque S C V C J C: Somente Criaturas Vastas Com Justiça Constroem. A justiça partira das mãos delas, mas no fundo, no fundo o bem da verdade é que aquilo não era justiça, mas ao menos morrera Selina nas mãos de quem tinha motivo, de onde tudo brotara, onde tudo aprendera, voltava, cumpria com ódio e sem muito saber o seu ciclo. Daquele exato pó viera, e á aquele exato pó retornava. Num começo de manhã ensolarado, fazendo plágios de “felizes para sempre”, num sinônimo de “era uma vez”, com toda vida que as assassinas ainda tinham, sem a vida atordoada que não precisavam.

FIM