sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Nostalgia Exacerbada
























Atenção: Eu vi este texto salvo num computador público, gostei muito, publico então, mas não é de minha autoria e nem sei de quem é...



Era sempre assim. Passava o noticiário da tarde e o vô do Pedrinho xingava o mundo.
- Ah, no meu tempo não tinha isso.
Mais tiros, mais sangue e o homem repetia:
- Essa juventude de hoje tá perdida.
Pedrinho ficava entre a sala e a cozinha, brincando com os carrinhos, e só escutava os reclames e a barulheira. O programa era muito violento, o pai não deixava ver. Ele não entendia o porquê de tanto protesto.
No jantar, perguntou ao vô se é verdade que o passado foi tão bom.
- Ô, se era. A gente deixava janela aberta e não entrava ladrão. A criançada brincava na rua e ninguém tinha medo. Hoje vocês só sabem ficar em casa, jogando videogame.
Pedrinho ficou bravo. Por que videogame era tão ruim? Mas preferiu ficar calado. Não iria responder ao avô, ainda que soubesse uma boa resposta.
- Olha, você ainda é pequeno para eu te contar isso, mas na minha época quando um menino namorava uma menina ele demorava uma semana para pegar na mão dela. Hoje essa juventude vai pra cama na primeira chance que têm. É um absurdo.
- Liga não, filho – disse o pai de Pedrinho numa rara intervenção – quando a gente fica mais velho acha que tudo era melhor no passado.
E olhou pro pai com ar de reprovação:
- Você se esquece que na sua época mulher só ficava no fogão. E na escola então, criança apanhava de vara de marmelo.
- Ah, eu apanhava de vara de marmelo e tô aqui. Criança malandra tem de apanhar mesmo. E olha, é por causa dessas mulheres que saem de casa que as crianças andam tão mal educadas. Na sua idade, você era muito mais educado que o Pedrinho.
Pedrinho ficou bravo pela segunda vez no dia. Por ele e pela mãe. Quase respondeu ao avô. Mas preferiu subir pro quarto. O pai o seguiu.
- Olha só, Pedro. Seu vô não tá acostumado com essa modernidade, com essas coisas. Tem muita coisa errada por aí, mas também não é assim. Não precisa ficar bravo.
- Ô pai, mas você acha que antigamente era melhor?Sei lá, filho. Sou muito novo para saber. Só digo pra ti que quando se elogia a própria época xingando a dos outros, isso não é nostalgia. É doença.